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CRISE DOS 30

Eu ando meio surtada, confesso. Já tentei encontrar várias justificativas e motivos, que me ajudem a situar no tempo em que estou vivendo, que me ajudem a compreender o que tenho sentido, mas a verdade é que eu não sei direito. Tudo parece ter perdido o sentido e eu me sinto completamente desorientada em meio a um turbilhão de emoções desencontradas. É como se eu não me conhecesse ou reconhecesse mais. Não sei muito bem onde estou, para onde vou ou o que estou fazendo aqui. Não sei mais quem eu sou ou quem é exatamente essa pessoa em quem me tornei. Tem sido estranho estar em mim...

Muitas coisas mudaram nos últimos meses. Fim de um longo relacionamento, mudança de casa, de cidade, de emprego, de possibilidades, de vontades... bom, na verdade, eu nem sei direito do que é que tenho tido vontade ultimamente. Não tenho tido muitas perspectivas ou conseguido ter nenhum plano concreto a respeito de minha própria vida ou do que eu quero para mim. Nada me entusiasma profundamente e nada parece fazer muita diferença. E isso me maltrata. Não que eu esteja triste ou depressiva. Não é isso... eu tenho tido dias alegres, tenho vontade de viver e ser feliz, por exemplo. Alias isso é a única coisa de que tenho certeza: de que quero ser feliz. Mas eu não sou mais uma criança e estou a ponto de fazer 30 anos e não tenho nada de palpável na minha vida. O que eu quero dizer? Que me sinto totalmente desconfortável no papel de uma mulher de quase 30 anos, principalmente porque eu, no momento atual, não tenho nada do que se esperaria que uma mulher de 30 anos tivesse. Casa, marido, filhos talvez, carreira, um jardim, um cachorro, algumas flores para regar... Estou mais para uma adolescentezinha deslumbrada e perdida, no auge dos seus 15 ou 17 anos, que não tem a mínima ideia do que fazer com a própria vida. E isso tem pesado bastante em meu coração. Não acho que eu deva, mas não consigo não me sentir imprestável, muito menos não me cobrar por isso. Na realidade, tenho me sentido tão culpada quanto envergonhada pelo lugar onde estou, que não sei se deveria ser exatamente o lugar em que eu com quase 30 anos deveria estar.

Tudo bem... eu sei que as pessoas tem tempos diferentes e que um número não devia ser mais do que apenas isso: um número. Mas eu não consigo saber o que fazer. Não sei mesmo. Não sei nada de mim. Nada, nada, nada. Nem do que eu gosto eu sei mais. E isso é absolutamente assustador. É apavorante pensar que eu não tenho nada para oferecer nem para mim atualmente. Quer dizer, eu sei que eu tenho um coração bom, que eu sou uma boa pessoa, que eu sou capaz de amar demais e de me doar mais ainda. Mas eu tenho sentido que eu deveria ter algo mais concreto para oferecer. Logo eu que nunca dei ouvidos para opinião dos outros, hoje me pego carregando o peso de não saber o que fazer com o que acho que deviam achar de mim. Eu queria ter alguma coisa para me orgulhar. E eu não tenho nada, além da pessoa que eu sou e isso tem parecido tão insuficiente.

As pessoas querem saber o que você faz, onde você trabalha, qual a sua formação, você tem pós em que mesmo?! As pessoas querem saber quais títulos você tem. Nada além disso importa muito. Tanto faz se você tem muito mais conhecimento do que uma pessoa que fez uma faculdade meia boca só para ostentar um diploma por aí. Tanto faz a sua inteligência, a sua profundidade ou as suas capacidades se você não tiver como comprovar isso com um pedaço de papel. Antigamente, conhecer alguém era leve. Hoje em dia parece que você já começa sendo cobrado ou testado desde o princípio. A conversa gira em torno disso, o que você faz, como faz, por que faz e que se explodam os assuntos irrelevantes como do que você gosta que a gente usava tanto anos atrás. Tudo bem, eu sei, deve ser o peso dos quase 30 anos, mas eu não consigo me acostumar. E olhe que venho me preparando para isso desde os meus 27...

E, assim, sem ter a mínima ideia de como, eu cheguei nesse lugar incomum, onde se você me perguntar hoje qual é a minha cor ou a minha música predileta eu não vou saber te responder direito. E qual a comida que eu mais gosto mesmo? Quer dizer, eu gosto de tanta coisa e ter preferências já não me parece fazer diferença. Para onde eu quero ir então? Não faço a mínima ideia! eu resolvi finalizar um capitulo da minha vida sem nem saber como devo começar a escrever o próximo. Estou com quase 30 anos e estou completamente perdida.

É só isso que eu sei: era uma vez uma pessoa que não sei por onde fiquei.

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