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LUTO PÓS TÉRMINO DE RELACIONAMENTO


Penso que as coisas sempre aconteceram de maneira meio lenta para mim. Quero dizer, sou uma mulher com quase 30 anos e que, por vezes (muitas!), ainda age como uma garotinha no auge dos seus vinte e pouquíssimos anos. Não sei se porque as nossas almas têm uma idade diferente da nossa idade "real" ou se isso se deve ao fato de eu normalmente conviver com pessoas mais novas que eu - tanto nas amizades, quanto nos relacionamentos amorosos. Definitivamente não sei precisar o por quê ou os porquês. Sei que muitas vezes me questiono se isso seria alguma forma de trauma ou medo que carrego de crescer/envelhecer ou se simplesmente meu tempo é mais lento do que o de outras pessoas. Acredito que, sim, as pessoas tem tempos e maneiras de evoluir diferentes umas das outras, mas não é bem sobre isso que quero escrever.

É que, digamos, eu não sou o melhor exemplar do que se possa esperar de uma mulher de 29 anos. A maioria ou está casada e com filhos (ou apenas casada) ou tem uma carreira sólida, já está formada e concretizando todos os seus projetos traçados lá atrás no tempo de faculdade; Ou tudo isso junto, conferindo-lhes uma bela e admirável carga de mulheres bem sucedidas e resolvidas no auge dos seus quase 30 anos de vida. Coisa na qual, confesso, do fundo de todo meu coração em que não acredito muito, mas a sociedade precisa de esteriótipos fiéis do que é dito como "correto" para serem seguidos. E essa é a imagem da mulher do meu tempo. A mulher que eu definitivamente não sou. Aquela que não se encaixa nos esteriótipos e ainda anda como um a garotinha meio perdida e avoada no auge dos seus quase 30 anos. Sim, sou provavelmente toda errada. A "diferentona". E não me culpo, só me cobro um pouco demais, às vezes...

Mas, só para não assustá-los assim de cara, isso de eu andar parecendo uma pós adolescentezinha é coisa dos últimos meses. Vem mais precisamente de 3 meses para cá. Até então eu seguia bem o meu papel de mulher adulta e trabalhadora que tenta se firmar numa relação tão sólida e tão séria, quanto a da grande maioria dos mortais. Trabalhava direitinho, estudava meio aos trancos e barrancos (pois de fato sou péssima com quase tudo que exige de mim rotina e disciplina e tenho uma péssima mania de não terminar as coisas que começo - inúmeros cursos inacabados são exemplo disso) e morava junto com meu namorado há 4 anos, dos 7 de nosso relacionamento. Mas eis que um dia e após muitas tentativas de nos mantermos juntos, por inúmeros motivos que não pretendo citar aqui no momento, decidimos (ou decidi - porque conscientemente talvez essa decisão tenha mesmo partido mais de mim) que o melhor a fazermos era nos separar. E eis que sobrei desse final de relacionamento perdida e desorientada, de volta para casa da minha mãe, sem emprego e para uma vida que dei graças a Deus por abandonar há alguns anos atrás. Estaca zero? Não sei! Sei que as vezes é preciso voltar um pouco atrás no caminho para podermos seguir em frente com toda dignidade que nos é possível seguir. Dessas fases da vida pelas quais temos que passar, mesmo que não seja bem o que queremos enfrentar.

O fato, é que, embora eu tenha terminado meu relacionamento com toda maturidade e certeza que me foi possível reunir nos últimos anos para conseguir dar fim a algo que já não vinha me fazendo todo bem que deveria e que se mostrava cada vez mais insuficiente para mim e para meu parceiro, mesmo assim eu não sai tão preparada e bem resolvida desse final, quanto imaginava que tinha saído. E olhe que eu realmente achava que sim.

Nos despedimos como duas pessoas maduras que se amaram muito e juramos que poderíamos contar um com o outro sempre. Isso depois de muita conversa e muitas lágrimas, muitos abraços e muitas incertezas e, absolutamente, de muita coragem. E nesse quesito seguimos bem, com todo respeito do mundo que se deve ter pela pessoa com a qual se dividiu anos de sua vida, de sua intimidade e de seu coração. Mas o que aconteceu comigo depois, aqui dentro do meu coração agora solitário da presença de mais alguém além de mim, foi meio que um tsunami de emoções inesperadas, que me atirou com força para o fundo do mar e depois me devolveu de volta para praia totalmente despida de minhas resistências e certezas. Eu me perdi, por completo.

Eu me afoguei dentro de mim. Enlouqueci. E não tinha nada a ver com meu ex. Tinha a ver comigo mesma. Com sentimentos que eu não conhecia ou que achei que já tivesse superado há muito tempo. A verdade, é que nunca nos conhecemos tão bem quanto pensamos. Às vezes, uma onda vem e nos arrasta com força na direção contrária a tudo que estamos acostumados e essa onda bagunça tudo aqui dentro. E a gente fica tão perdido em meio a tantas informações e sensações estranhas nos chegando de todos os lados que não sabemos bem o que fazer conosco. Da até vontade de se jogar fora, de fugir do próprio corpo, de se esconder das próprias possibilidades. Ser você mesmo fica confuso demais. A gente não se encontra. Não encontra forças para submergir de dentro das profundezas de nós mesmos. E quando a gente consegue enfim puxar o fôlego e explodir para fora das águas, nosso coração resta ali boiando despedaçado e perdido, naufrago de si mesmo, sobre um sol de fritar até os nossos melhores sentimentos. A gente não entende bem o que se tornou e já não faz a mínima ideia de quem é.

Esse talvez tenha sido meu luto pós término de um longo namoro. A minha maneira que o meu coração encontrou de dizer para mim que as coisas não estavam tão bem assim e que eu não era tão durona e nem tão bem resolvida quanto gostaria de ser.

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